“A Garota no Trem”, de Paula Hawkins, tem causado grande alvoroço nas redes sociais nos últimos meses devido ao seu sucesso estrondoso de vendas logo após o lançamento, o que gerou boas expectativas nos leitores. No entanto, o livro peca pelo excesso de enrolação, falta de aprofundamento psicológico e poucos fatos surpreendentes, uma decepção para 2015.
Crítica do livro A Garota no Trem, de Paula Hawkins. Montagem: Renato Souza. |
É um completo equívoco querer comparar o enredo de Paula Hawkins com o de Gillian. Já disse anteriormente que coloco Garota Exemplar como um dos melhores livros que já li, pela descrição psicológica perfeita dos personagens e da habilidade de Flynn em escrever uma história tão surpreendente e com um excelente nível de acidez na narração, o que não acontece em A Garota no Trem.
Esta história é narrada sob o ponto de vista de três personagens: Rachel, Megan e Anna. No entanto, se não fosse o fato de vir o nome da narradora em cada capítulo e elas estarem inseridas em cenários diferentes talvez nem percebêssemos a mudança de personagem. Por mais que elas possuam características diferentes, a personalidade de cada uma não é tão marcante. As protagonistas e os coadjuvantes são pouco aprofundados e damos de cara com clichês mal inseridos, como o alcoolismo e a traição conjugal. As primeiras 100 páginas até apresentam uma boa crescente e nos fazem querer ler ainda mais, mas depois só cai devido ao tempo de enrolação. Quando pensamos que uma grande coisa será revelada, nos frustramos em perceber que foi só uma propaganda enganosa.
Veja bem, o momento da literatura mundial não é de histórias em que são necessárias quase todas as páginas da obra para poder revelar o que aconteceu de verdade na principal cena do livro. Além do autor (a) apostar muito, corre um grave risco de decepcionar o leitor, que apostou na história, chegou ao final e não se surpreendeu. Aqui preciso comparar mais uma vez com Gillian Flynn. Em Garota Exemplar, a autora começa com uma narração cansativa, apresenta uma grande evolução, com reviravoltas reais e incríveis, que instigam o leitor, e joga uma revelação bombástica depois da página 200 (de um total de quase 500), que melhora uma história que já estava beirando a perfeição. Assim, a todo momento nos deparamos com fatos surpreendentes que nos fazem querer acompanhar a história para “vermos onde essa loucura vai levar”, e simplesmente não conseguimos largar o livro tamanha é a inteligência da autora.
Quero ressaltar que A Garota no Trem não é uma história chata, que apresenta justificativas ridículas e falhas graves no roteiro. Apenas por isso a nota não é ainda menor. Porém, eu pelo menos estou atrás de autores que nos tragam algo de novo, que nos surpreenda mesmo quando pensamos em tantas possibilidades para o desfecho, que nos faça sentir uma adrenalina só de estar acompanhando o enredo. Paula Hawkins apresenta uma escrita boa, com coisas interessantes, mas é muito regular e pouco inovadora no estilo.
Eu poderia citar diversos suspenses psicológicos que se sobressaem se comparados ao "A Garota no Trem". Se este eu pensei que seria um dos melhores de 2015, coloco-o como uma das decepções do ano. Faltou, e muito! Não recomendo.