Crítica do livro "Lugares Escuros", de Gillian Flynn. Montagem: Renato Souza. |
Depois de ter lido um marcante "Garota Exemplar" e depois um esquecível (nem tanto) "Objetos Cortantes" (livro de estreia de Gillian Flynn), finalmente pude acompanhar a segunda obra da autora, intitulada "Lugares Escuros". Caramba, não sei por onde começar a descrever o que senti ao ler este livro.
Em plena época de ideias escassas, personagens mal trabalhados e histórias mal encaixadas, precisamos voltar as atenções para aqueles escritores que conseguem imprimir uma identidade em suas histórias. Nesse cenário, um dos maiores destaques do suspense psicológico da atualidade vem se firmando com apenas três livros lançados, sendo que o seu segundo (Lugares Escuros), com filme a ser lançado no próximo dia 18 de junho, foi o mais recentemente lançado pela editora intrínseca.
A sinopse é novamente atrativa. Em 1985, um massacre marcou a cidade de Kinakee, Kansas City, onde duas crianças foram assassinadas, juntamente com a mãe delas. O irmão das menininhas, Ben Day, foi acusado dos assassinatos pela irmã Libby Day (também sobrevivente) e desde então passou a vida na cadeia, cumprindo a sentença de prisão perpétua. No entanto, após ser chamada para comparecer a um grupo de discussão de assassinatos famosos, intitulado "Kill Club", Libby decide revirar o passado e investigar se o que de fato aconteceu naquela noite foi o que ela viveu 25 anos acreditando.
Este é o terceiro (e último livro lançado) que eu leio de Gillian Flynn e são tantos elogios que nem sei por onde começar. Nenhuma das histórias foram sequer parecidas. Sua identidade se firmou em sempre contar uma história única.
Em Lugares Escuros, o desenvolvimento foi impecável e a alternação narrativa de três membros da família proporcionou uma grande dinâmica na obra. Um capítulo é Libby (primeira pessoa), o outro é Ben (terceira pessoa), o outro volta pra Libby e o ciclo se fecha com a mãe deles Patty Day (terceira pessoa). Dessa forma, o leitor acabou descobrindo algumas coisas primeiro do que a principal personagem e essas vantagens foram sendo utilizadas no momento certo a fim de proporcionar uma tensão muito maior.
O que pode causar cansaço em alguns leitores é a ausência de diálogos em grande parte da obra, mas este fator é justificado no foco da autora em montar o perfil psicológico de cada personagem, o que faz com maestria, pois cada um deles se torna marcante à sua maneira. Um destaque para a acidez nos pensamentos da protagonista (risos).
Vale ressaltar a evolução de Flynn se compararmos com o seu primeiro livro (Objetos Cortantes). Se antes ela havia se mostrado inexperiente com diversos aspectos da escrita, em Dark Places esses erros simplesmente não existem. O quebra-cabeça sobre o que aconteceu na noite do massacre ficou mais complicado de se resolver a medida que o livro avançou, até chegar em um final de deixar qualquer um de queixo caído. Muito surpreendente!
Mesmo com todas essas críticas positivas, gostaria de deixar um aviso: não garanto que os mesmos que gostaram de Garota Exemplar irão gostar deste livro. Aliás, acredito que Lugares Escuros ainda dará muita polêmica devido ao tema que ele contém: "a adoração ao satanás". Existe uma cena que achei bem pesada e me pergunto se ela será levada com precisão para as telas, pois será muito forte caso isso aconteça e gerará muita discussão entre os mais céticos. É claro que esse tipo de culto não é o tema dominante no livro, mas faz parte do contexto.
Se Objetos Cortantes não me causou o mesmo êxtase que Garota Exemplar, Lugares Escuros conseguiu o feito. O livro veio pra ficar marcado na memória e mal posso esperar para acompanhar o filme, que contará com grandes atores e uma boa produção. Espero que seja bastante fiel, como Gone Girl foi. Uma pena que Gillian Flynn vai demorar lançar sua próxima obra, visto que está em um projeto com o diretor David Fincher. A literatura mundial precisa de mais autores originais e ousados como ela. Me tornei um fã! #LeiaUrgente